Unfold the Evangel before your eyes!

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terça-feira, setembro 19, 2006

A Polêmica do Papa

Jornal da Globo

Os protestos em países muçulmanos contra um discurso acadêmico pronunciado por Bento XVI tornaram-se ainda mais fortes, apesar do Papa ter dito “lamentar as reações”, no domingo.
O presidente da conferência episcopal italiana, Camilo Ruini, chamou de “inqualificáveis” as ameaças ao Papa vindas do mundo muçulmano. O cardeal ofereceu a Bento XVI total solidariedade.

O presidente da França, Jacques Chirac, lançou um apelo para que seja evitado tudo o que pode alimentar tensão entre povos e religiões.
Nesta segunda-feira, o país islâmico mais intransigente foi o Irã, que não aceitou a retratação do Papa. Lideres moderados, do Egito e da Jordânia, também não se satisfizeram com a explicação do Papa, e querem um pedido de desculpas claro e sem equívocos.
Novas ameaças foram feitas ao pontífice e à Igreja, por iraquianos extremistas ligados ao grupo al Qaeda.

Longe dos muros sagrados, em Castel Gandolfo, Bento XVI acompanha os protestos. No vaticano, se prepara um encontro com autoridades católicas, muçulmanas e judaicas. Recomeçar diálogo entre as religiões é a aposta da Santa Sé para o fim da crise entre a Igreja e o Islã
A declaração

Bento XVI é um intelectual de pensamento muito sofisticado e elaborado. E boa parte das reações negativas ao que ele disse parecem ser fruto de pouca informação.
As palavras pronunciadas pelo Papa constam da aula magna que ele deu na semana passada na universidade de Regensburg, no sul da Alemanha, onde fora professor de teologia. O título da aula era “Fé e razão – e como é possível, através da razão, entender Deus”.

Para explicar porque a fé e a razão excluem a violência como forma de se propagar uma religião, o papa reproduz diálogos travados há mais de 600 anos entre um imperador bizantino, Manuel II Palaeologo, e um prelado persa de nome desconhecido. Era um diálogo sobre a relação que cristianismo e o Islã mantém com fé e razão.

Naquela época, por volta do ano 1400, Constantinopla, a capital do império Bizantino, estava cercada por exércitos muçulmanos – que acabariam conquistando a cidade 53 anos depois, uma das datas mais traumáticas para a cristandade.

O imperador conhecia perfeitamente as definições, contidas no Corão, sobre a guerra sagrada", diz o Papa. "E ele se dirige a seu interlocutor de forma muito brusca, com a questão central por excelência da relação entre religião e violência, e diz: ‘mostre-me o que o profeta Maomé trouxe de novo (na questão da Guerra Santa) e você só vai encontrar coisas ruins e desumanas, como a crença, que ele propagou, que a fé dele tem de ser espalhada através da espada’".
É uma palestra muito mais acadêmica que religiosa. É fácil descontextualizar esta frase e instrumentalizar esta frase. Mas essa instrumentalização também é entendível, por parte dos muçulmanos, porque a fala aconteceu no dia 12 de setembro, um dia depois da comemoração dos atentados contra o World Trade Center”, avalia Frank Usarski, professor de Ciências da Religião da PUC-SP. “E ainda, esse discurso público no mundo Ocidental inteiro, repercutiu na alma, na consciência coletiva dos muçulmanos”.

Segunda-feira, 18 de Setembro de 2006

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